quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Coluna do Marcelo Tas na Crescer do mês de setembro

Pai Laboratório


 Tio maluco, animal em extinção!

Há um personagem fundamental, pouco valorizado na educação das crianças: O tio maluco. Nessa era do assustador politicamente correto, o tio maluco merece carinho especial e ser protegido da extinção como um mico-leão-dourado.
A função básica do tio maluco é nos salvar da proteção excessiva dos pais, figuras que estão no mundo com a missão de deixar as coisas mais limpinhas e bonitas do que de fato são.
Se os pais funcionam como um Photoshop da verdade - um programa de computador que deixa os políticos e as meninas da revista "bem na foto", os tios malucos são os grafiteiros da realidade, os caras que nos guiam pelos vídeos emocionantes e quase sempre esburacados da vida como ela é.
Toda vez que o universo conspira para que eu exerça o papel de tio maluco, me atiro à função sagrada com devoção, respeito e disciplina de bailarina russa.
Na virada de 2000 para 2001, passei duas semanas rodando pela Califórnia dentro de uma van alugada com mais 5 mulheres! Não era um reality show, mas parecia. Eu era o motorista. As cinco passageiras eram minha mulher e minha filha, mais uma amiga e as duas filhas dela. O marido ficara no Brasil. Tal casal significava, e ainda significa, para mim o que se chama no popular de "compadres". E mais: Eu também era oficialmente, e ainda sou, o padrinho de Maria, a filha mais nova deles, na época no auge dos seus 5 anos.
Deixamos Los Angeles em direção à uma floresta de sequoias, as árvores mais altas e antigas do mundo. De lá partimos para o parque Yosemite. Em seguida para uma estação de esqui sobre as Montanhas Rochosas...A cada dia nos lançávamos na estrada sem compromisso em busca de algum divertimento e um lugar para passar a noite. Dentro da van, me especializei em destrinchar mapas e provocar Maria com piadas absurdas e histórias escatológicas. Coisa de tio maluco.
A história predileta dela era uma em que eu não pude controlar uma dor de barriga e fiz cocô nas calças. Claro que, especialmente para Maria, inventei cenas extras com direito a jatos marrons que saíam das minhas calças tingindo paredes brancas de uma suposta sala do meu colégio. Ela se contorcia no banco do carro de tanto rir. A história nem bem acabava e ela, gargalhando, implorava: De novo, conta de novo!
De repente, provavelmente cansada de tanto brincar, ela interrompeu a minha narrativa com um palavrão de gente grande. A mãe até acordou de susto. Todos começaram a admoestá-la pela falta de educação. Imediatamente, saí do personagem e, seriamente assumi a defesa, solene como um advogado no tribunal do júri:
- Maria tem toda razão. Eu é que errei. Prometo que nunca mais vou aborrecê-la com minhas histórias bestas, a não ser que ela peça. Tá bom assim, Maria?
- Tá bom, concordou ela sem muita convicção.
No dia seguinte, de volta à estrada, havia uma expectativa no ar. Passei a falar apenas coisas sensatas. A viagem foi ficando maçantee os passageiros cairam no sono. Menos Maria, que permanecia inquieta, sempre atenta no seu posto de observadora aguda do mundo. Alguns longos minutos depois o silêncio é quebrado pelo sotaque delicioso da carioca serelepe de 5 anos:
- Tio Marcelo, conta um história beeem nojenta!
Muitos pais, erroneamente, torcem o nariz para o tio maluco, Talvez por desconhecerem que se trata de figura tão abençoada quanto necessária para a saúde mental dos filhos deles. Aproveito para agradecer: tio Valdemar, tia Marley, tio Zé, tio Joaquim, tio Pedrinho...Obrigado queridos tios malucos, vocês foram fundamentais na minha vida!

Marcelo Tas
Fonte- Revista Crescer

Um comentário:

  1. nossaaaa, eu tenho muitos tios malucos. haha. até mesmo tio de sangue mesmo que são beeem doidinhos, e aqueles tios de coração/ consideração. ADOROOOO #fatão.
    Ah, e P*** sorte da Maria em ter um tiozão maluco como o Professor Tiburcio, ou Telekid, ou mesmo, MARCELO TAS.
    POOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO.
    Eu queriaa. haha :D

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