quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Coluna da Revista Crescer - Dezembro/10

Pai Laboratório


Viva os "bananas"!
Existe vida após a infância? Essa dúvida me atingiu bem na testa após tomar emprestado os livros da série Diário de um banana com os quais, meu filho Miguel, de 9 anos, anda agarrado há alguns meses. Trata-se da história de Greg, um garoto de 13 anos que está descobrindo a dor de deixar de ser criança. Por sugestão da mãe, sempre ela, o moleque começa a escrever um diário. Aliás, diário não, um LIVRO DE MEMÓRIAS, como ele faz questão de frisar dessa forma, com letras grandes.
Oitenta milhões de crianças aprovaram a história antes dela virar livro. Sem editora interessada no seu calhamaço de 1,3 mil páginas, Jeff Kinney, o autor da série, um cartunista frustrado, criou um blog na internet, onde despejou o diário de Greg. Muito parecido com o personagem que criou, Jeff transformou sua dificuldade em publicar seu primeiro livro numa oportunidade de se comunicar com crianças do mundo inteiro.
A série Diário de um banana já está no sexto volume (quatro foram traduzidos para o Português e lançados no Brasil) com direito a uma versão adaptada para o cinema de Hollywood. O sucesso de bilheteria já colocou em marcha a filmagem da sequência, Diário de um banana 2. O segredo de Jeff é tão simples quanto difícil de ser seguido: Expor as fraquezas com sinceridade e humor. Só isso? Não, tudo isso!
O próprio nome da série entrega a tática de Jeff. Para alguém se autointitular um "banana", há que se atingir um estado espiritual elevado. Trata-se de uma condição bem mais aperfeiçoada que a nossa, superseres humanos, que escondemos nossos defeitos o dia inteiro. Um "banana" assumido é alguém que leva a sério a virtude tão árdua quanto rara: "Ria de você mesmo".
Tem sido uma experiência eletrizante participar, como observador e cúmplice, da leitura de Miguel. O livro mais recente da série é sensacional - Faça você mesmo, onde o leitor mirim é convidado a escrever seu próprio diário com sugestões temáticas provocativas de Greg. Fiquei paralizado diante dos espaços vazios que deveria preencher com perguntas do tipo: Quais os maiores erros que já cometeu até hoje? Ou: Se você pudesse voltar no tempo e filmar um acontecimento da sua vida, qual seria?
Claro que não vou revelar aqui as respostas do Miguel, nem as minhas no diário, ou melhor, no  LIVRO DE MEMÓRIAS. Quero apenas compartilhar com vocês que confessar fraquezas diante do papel, principalmente ao lado do filho, é um dos exercícios mais saudáveis que já pratiquei. Ajuda muito a conhecer um novo cara que você pensava conhecer de trás pra frente: seu filho.
Quem diria que um menino dedicado aos afazeres escolares como o Miguel me surpreenderia na "Lista de de Exigências para o seu Camarim Quando Você se Tornar Um Astro da Música"? Lá está com todas as letras: um nerd para fazer minha lição de casa!
Todos nós, adultos e crianças, gastamos muito tempo da vida tentando esconder as coisas feias que temos dentro de nós. Quando assumimos a figura do "banana" , em vez de empurrá-las para debaixo do tapete a trazemos para o fogo e a luz implacáveis do humor. Libere o "banana" dentro de você. Libere o seu filho da infância onde você o congelou. Viva os "bananas"!

Marcelo Tas

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